O ministro Rogério Marinho, do Desenvolvimento Regional, tem se comportado como pré-candidato a um cargo eletivo nas eleições de 2022, que poderá ser governador do Estado, senador ou deputado federal. Nesta última semana ele visitou vários municípios do Rio Grande do Norte levando obras do governo federal, conversando com lideranças políticas (principalmente prefeitos) e participando de programas de rádio, onde manteve entendimentos administrativos e políticos, também. Rogério Marinho tem se constituído numa espécie de porta-voz do presidente Jair Bolsonaro com a missão de aproximá-lo do eleitorado nordestino. Habilidoso politicamente, Rogério demonstra capacidade de articulação e aglutinação para unir o grupo político do presidente no Estado e em consequência construir candidaturas fortes e competitivas, tanto ao governo do Estado, quanto à presidência de República, evidentemente. Entre os nomes do sistema “bolsonarista” para governador, destacam-se ainda, Fábio Faria, deputados general Girão Monteiro, Walter Alves, Beto Rosado, Benes Leocádio, Carla Dickson, Ezequiel Ferreira, Tomba Farias, Gustavo Carvalho, José Dias e Álvaro Dias, atual prefeito de Natal. De acordo com o deputado Girão Monteiro, todos esses nomes estão credenciados para disputar o governo pelos serviços prestados ao Rio Grande do Norte, entretanto, entende ser necessária a busca da união do grupo político de oposição ao governo estadual para que seja construída uma chapa forte com condições de vitória nas urnas em 2022. A governadora Fátima Bezerra, do PT, que deverá ser a opositora, não vive um bom momento, mas mesmo assim, líderes da oposição entendem que na condição de candidata, Fátima Bezerra não deve ser subestimada, pois diz o adágio popular que vitória só pode ser comemorada após a abertura das urnas.
O deputado do PSL, General Girão Monteiro, voltou a criticar o posicionamento do governo do PT no combate à pandemia no Estado. “O governo do PT está utilizando o COVID para aterrorizar a população”, disse o deputado, que é um dos nomes do sistema bolsonarista que poderão ser candidato a governador nas eleições do próximo ano. Ele disse ainda que o governo do PT está impedindo que os médicos ministrem a medicação preventiva ao vírus. “Querem quebrar o Brasil”, ressaltou, questionando em seguida: “o fechamento resolveu alguma coisa”. Perguntado sobre sucessão estadual, o deputado do PSL diz defender a união do seu grupo político de apoio ao presidente Jair Bolsonaro, citando os nomes de Ezequiel Ferreira, Fábio Faria, Rogério Marinho, Beto Rosado, João Maia, Walter Alves e Carla Dickson como nomes fortes e representativos para se indicar o candidato a governador do Estado.
Dentre tantas dúvidas relacionadas à Covid-19, uma assertiva parece ser o entendimento, na maioria, de que o isolamento social é indispensável no conjunto de ações na guerra da pandemia. Essa maioria é formada por grupos científicos e essa orientação está incorporada nas políticas de saúde em todo o mundo. O atual nível de desenvolvimento da ciência que trata desse assunto identifica claramente as formas de contágio, propagação e imunização do coronavírus, intuindo pelas principais práticas que evitam esse contágio antes da vacina: máscaras, higiene e distanciamento. Busca-se reduzir os picos de contaminação pelo vírus e os consequentes óbitos, “achatando a curva pandêmica”, possibilitando um atendimento hospitalar e funerário minimamente digno, constatando-se o iminente colapso desses serviços. No caso da redução da mobilidade, ensejam-se decisões que determinam a proibição de aglomerações, estímulo ao teletrabalho e a obrigação do fechamento de serviços e comércio não essenciais e de escolas. Muitas dessas ações impactam negativamente o nível da atividade econômica, sobremaneira. A deterioração da economia no Brasil vem expondo mazelas sociais que estavam escondidas e que sugerem uma catástrofe humanitária sem precedentes. Não se pode deixar de reconhecer o drama por que esses grupos passam. Os que não têm condições de garantir recursos mínimos de sobrevivência durante essa emergência, os mais vulneráveis, estão passando momentos de muita aflição e devem ser considerados como prioridade nas políticas de enfrentamento da Covid-19. Entre esses, os pobres e desempregados, mais ainda, pois incluem a fome no seu infortúnio. Mas creditar a causa desses problemas nas decisões dos governos, em suas diversas instâncias, fomentando a controvérsia entre salvar vidas ou a economia, aparenta-nos ser injusto. As dúvidas quanto ao comportamento dessa doença, como as suas sequelas, vêm desnorteando a governança do assunto em todo o planeta. Abrir ou fechar é a grande questão. Qual a medida desse remédio? Qual é a proporção que maximiza os benefícios do distanciamento social na luta contra esse vírus, versus a redução dos impactos econômicos em cada realidade local? Esse dilema está destruindo a imagem da autoridade responsável pela decisão de “o que fazer?”. Reclamar desses governantes a baixa disponibilidade dos serviços de saúde que obriga essas medidas drásticas, responsabilizá-los pela morosidade na vacinação e cobrar a inquestionável necessidade de proteção social aos mais vulneráveis nos parece justo. Culpar as decisões quanto ao distanciamento social como únicas causas desse desastre requer uma análise mais ponderada.
Henrique Santana é engenheiro civil, mestre e doutor em desenvolvimento e meio ambiente pela UFRN.
Sempre achei que em algum momento da história recente o Brasil seria motivo de vergonha mundial, quer pela corrupção desmedida que aqui campeia, pelo aumento sem controle da criminalidade e da violência nas grandes cidades, pelo descaso com o meio ambiente… Eis que o momento parece ter chegado e não está relacionado a nenhum dos problemas acima enumerados, mas sim devido à pandemia da covid-19 que já se instalou por aqui há mais de um ano e que, neste momento, atinge seu pior momento, sendo motivo de preocupação em todo o mundo. Com a propagação do vírus fora de controle e atraso na vacinação, estamos chegando à incrível marca de 300 mil mortes. Nos últimos dias, atingimos a marca de 2.800 mortes diárias, número este que cresce sem cessar. Estamos nos aproximando perigosamente dos EUA, país que mais mortes registrou até agora no mundo e que já acumula 540 mil óbitos. Ocorre, no entanto, que nos EUA o número de mortes está em declínio – 1.237 mortes nos últimos sete dias até 19/março/2021 -, enquanto que no Brasil este número se aproxima das 3 mil mortes por dia. Não à toa, mais de 100 países já proíbem a entrada de viajantes brasileiros em seus domínios. Não chegamos a esse número por acaso e sim pelo descaso da nossa classe política e de governantes despreparados e interessados apenas no seu futuro político. O exemplo maior vem do nosso presidente que desde o início da pandemia e até os dias atuais ignorou os riscos que o país vinha correndo, não obstante as marcas indeléveis deixadas pelo vírus em outras regiões do planeta. Aquele que deveria coordenar em âmbito nacional um amplo programa de enfrentamento da doença, simplesmente desdenhou da necessidade de vacinação em massa da população e, em face disso, negligenciou a compra antecipada de vacinas para imunizá-la, ao contrário de outras nações que logo se anteciparam e fizeram acordos com os laboratórios. Por aqui, perdemos muito tempo nos debruçando na resistência do presidente em aceitar a doença e na costumeira burocracia para aprovação das vacinas pelo órgão responsável, enquanto outras nações queimavam etapas para obtê-las. Na América Latina, o melhor exemplo do senso de urgência veio do Chile. Ainda em maio de 2020, quando os casos de morte pela covid-19 ainda eram poucos, o presidente incumbiu seu subsecretário de Relações Internacionais de se dedicar exclusivamente à compra de vacinas e negociar com vários laboratórios. Enquanto aquele país brigava por vacinas, o Brasil as esnobava. Em dezembro/2020, o Chile já recebia o primeiro lote de vacinas da Pfizer. Resumo da história: até a quarta-feira, 17 de março/2021, o Chile já havia vacinado 36,7% da sua população contra apenas 5,6% no Brasil. Diante da falta de um plano nacional de combate da doença, cada gestor estadual teve que elaborar às pressas um plano atabalhoado de contingência que, não raro, se chocava com a opinião de gestores municipais quanto ao seu alcance. Vale dizer que muitas dessas medidas tomadas pelos gestores estaduais e municipais no início da pandemia se mostraram ineficazes, como os hospitais de campanha, instalados às pressas e que na maioria dos casos se tornaram uma maneira de desviar recursos públicos; ou seja, em meio a tanto desespero decorrente de uma ameaça jamais vista na história da saúde nacional, ainda assim pessoas inescrupulosas se locupletaram de recursos destinados a combater a pandemia. Pior de tudo é que até o momento ninguém foi responsabilizado por isso. Hoje, portanto, com mais de um ano de convivência com a pandemia, o país se encontra à beira do colapso no sistema de saúde, com a doença acelerando rapidamente em todos os estados, com pessoas infectadas lotando os hospitais e muitos morrendo na fila de espera por uma vaga, hospitais esses muitos deles com problemas de escassez de oxigênio e até mesmo de medicamentos básicos como analgésicos e bloqueadores neuromusculares usados para intubação de pacientes nas UTIs, funcionários da saúde à beira da exaustão e em quantidade insuficiente para atender a elevadíssima demanda de serviços e vacinação caminhando a passos de tartaruga pela falta de vacinas. Com o caos instalado na saúde, a economia, que já vinha passando por momentos difíceis antes mesmo da pandemia, dá cada vez mais sinais de preocupação com a redução da atividade econômica devido à onda de novos lockdowns decretados por quase todos os estados e a necessidade de recursos adicionais para bancar o auxílio emergencial para amparar os mais afetados pela pandemia. Um dia na história deste país se chegará à conclusão de que muitas dessas mortes poderiam ter sido evitadas se medidas mínimas de controle tivessem sido adotadas desde o início da pandemia e, ela mesma, e se encarregará de punir as autoridades responsáveis pela negligência na morte de tantas pessoas.
Costumo dizer que não existem pessoas e governos totalmente ruins nem totalmente bons, como não concordo com generalizações, sejam elas quais forem. Considero generalizações um grande equívoco. Entendo que não se pode dizer, por exemplo, que todo político é corrupto. Não é. Existem políticos sérios, honestos e trabalhadores, a exemplo de jornalistas, médicos, engenheiros e um universo de profissionais, igualmente honestos. Existem ruins em todas as profissões. Como existem também empresários desonestos. A Lava-Jato que o diga. Penso que estamos vivendo uma época de falso-moralismo, pois muitos que criticam sistematicamente os outros, teriam o mesmo comportamento se estivessem no lugar dos criticados. Vivemos também, o século da mentira, sem querer, entretanto, generalizar. Pessoas não cumprem a palavra, literalmente. E isso é ruim porque cria um ambiente de desconfiança e falta de credibilidade. Só se muda essa realidade com educação. Cadê as Escolas de Tempo Integral para tirar as crianças das ruas? País nenhum vai pra frente sem educação. O Brasil está se transformando num País de presidiários e em razão disso construindo presídios em vez de escolas. Essa é uma triste realidade e um péssimo exemplo para o mundo. Outra péssima realidade é a mendicância nas cidades brasileiras, crescente e preocupante, tantas são as famílias pedintes alojadas nos canteiros e debaixo das marquises ao relento. É preciso que sejam efetivadas políticas públicas para atender essas pessoas, dando-lhes o mínimo de dignidade que é moradia. Se não bastasse, a situação agora agravada com a crise pandêmica que vive o País.