A SAGA DO VERANISTA POTIGUAR
Por Nilson Pinto
Saudades
A coisa mudou.
O veraneio era bem mais simples e mais barato.
A casa era mobiliada com móveis de segunda mão: geladeira, fogão, panela, talheres, copos, era uma verdadeira colcha de retalhos.
E o enxoval? Tudo roupa usada.
Nem se falava em perigo. Caco de vidro nos muros nos garantia a segurança.
Os dias começavam cedo e as farras não passavam do fim da tarde.
Papos na varanda, jogo de baralho e cama.
Café da manhã farto, queijos regionais, tapioca, cuzcuz, ovo, bolo, etc.
Banana, laranja, manga, abacaxi, caju, as frutas faziam parte da dieta na hora do lanche.
Muito banho de mar e Hipoglós era a nossa proteção contra o sol. Bicho de pé era sinônimo de um veraneio de sucesso.
Na hora da farra, menino não podia encostar no tira gosto, era só para quem estava bebendo.
Sangue de Boi com gelo, Pitú, cerveja em garrafa (2 marcas) e rum Montila faziam a alegria dos bebuns, mas, vez por outra, alguém esnobava com uma garrafa de Balantines.
Refrigerante só nos dias de festa e nos finais de semana. O negócio era refresco.
Nada de tecnologia. A imagem da tela da TV era péssima e acompanhar alguma novela era um martírio.
Para falar ao telefone, tínhamos que depender do posto telefônico local, do horário de funcionamento, do humor da telefonista e do tamanho da fila.
Como faltava energia, gelo era uma raridade e não se podia desperdiçar.
A música era de boa qualidade e sempre tinha alguém que arranhava um violão. O o coral de desafinados estava sempre presente e tinha até a back voice quando as músicas eram de Vinicius, mas Andanças era a campeã e todos sabiam algum pedaço da música.
Chuveiro com água fria e em um único banheiro da casa.
Nem lembro como as portas aguentavam tantas batidas: toc ,toc, toc!
Tá fazendo o quê? Abra logo essa porta, tá demorando muito!
Eita, a água acabou e a bomba está quebrada.
Redes, lençóis,
toalhas, eram quase comunitárias .
Rolos de filmes eram gastos para registrar as melhores cenas. Nada de retoques ou fotoshop. A ansiedade para ver as fotos era grande, pois só revelava quando todo o filme estava usado, isso, quando um desavisado não abria a câmera antes de rebobinar o filme e perdia todas as fotos.
Quem não viveu tudo isso estranha e pergunta se éramos felizes? CLARO que sim, éramos simples.
Nilson Pinto é veranista de Muriú há mais de 50 anos