O Segredo da Fulaninha
Por Ricardo Sobral, advogado
Por natureza e formação sou discreto, confiável e gosto de passar despercebido.
Diria até mesmo que sou tímido, embora outrora umas amigas me achassem temido.
Uma coisa, porém, é certa: Espalhafatoso e gostar de aparecer não faz o meu estilo.
Tenho, pois, com permissão do leitor, a veleidade de afirmar que sou um túmulo para guardar segredo. Igual a imagem de santo em quarto de rapariga – tudo ver e nada diz.
Acreditem!
Entretanto, diz o ditado popular que toda regra tem sua exceção, até mesmo para confirmá-la.
Seja lá como for, não vou abrir exceção contando segredo a mim confiado.
Vou, isso sim, nesses tempos de novidade linguística, reflexibilizar a regra, contando o milagre sem dizer o santo
Explico:
Estava ontem num restaurante tratando de assunto profissional, conversa formal sobre assunto bem sério, na companhia de dois senhores, um deles com mais idade do que eu.
De repente entra uma figura q’eu não via havia uma dúzia de anos, unidade essa de medida que não serve apenas para contar ovos.
Ao me ver, deu a impressão de que afinal havia encontrado alguém a quem poderia fazer o grande desabafo de sua vida, libertar o próprio peito de medonho sufoco.
– Ricardo Sobral, se eu lhe contar uma coisa você guarda segredo? – perguntou-me à queima-roupa.
Antevendo que o segredo do amigo seria impróprio para os circunstantes, adverti-lhe enérgica e cordialmente:
– Guardo não. Você, que é dono do segredo quer contar, imagine eu, que não sou nada dele!
Embalde foi minha advertência: O sujeito encheu os pulmões de ar e disse feliz a todo vapor:
– Voltei pra Fulaninha. Que diferença faz um corno a mais ou um corno a menos?