Vexame Global
Sempre achei que em algum momento da história recente o Brasil seria motivo de vergonha mundial, quer pela corrupção desmedida que aqui campeia, pelo aumento sem controle da criminalidade e da violência nas grandes cidades, pelo descaso com o meio ambiente…
Eis que o momento parece ter chegado e não está relacionado a nenhum dos problemas acima enumerados, mas sim devido à pandemia da covid-19 que já se instalou por aqui há mais de um ano e que, neste momento, atinge seu pior momento, sendo motivo de preocupação em todo o mundo.
Com a propagação do vírus fora de controle e atraso na vacinação, estamos chegando à incrível marca de 300 mil mortes. Nos últimos dias, atingimos a marca de 2.800 mortes diárias, número este que cresce sem cessar. Estamos nos aproximando perigosamente dos EUA, país que mais mortes registrou até agora no mundo e que já acumula 540 mil óbitos. Ocorre, no entanto, que nos EUA o número de mortes está em declínio – 1.237 mortes nos últimos sete dias até 19/março/2021 -, enquanto que no Brasil este número se aproxima das 3 mil mortes por dia. Não à toa, mais de 100 países já proíbem a entrada de viajantes brasileiros em seus domínios.
Não chegamos a esse número por acaso e sim pelo descaso da nossa classe política e de governantes despreparados e interessados apenas no seu futuro político. O exemplo maior vem do nosso presidente que desde o início da pandemia e até os dias atuais ignorou os riscos que o país vinha correndo, não obstante as marcas indeléveis deixadas pelo vírus em outras regiões do planeta. Aquele que deveria coordenar em âmbito nacional um amplo programa de enfrentamento da doença, simplesmente desdenhou da necessidade de vacinação em massa da população e, em face disso, negligenciou a compra antecipada de vacinas para imunizá-la, ao contrário de outras nações que logo se anteciparam e fizeram acordos com os laboratórios. Por aqui, perdemos muito tempo nos debruçando na resistência do presidente em aceitar a doença e na costumeira burocracia para aprovação das vacinas pelo órgão responsável, enquanto outras nações queimavam etapas para obtê-las.
Na América Latina, o melhor exemplo do senso de urgência veio do Chile. Ainda em maio de 2020, quando os casos de morte pela covid-19 ainda eram poucos, o presidente incumbiu seu subsecretário de Relações Internacionais de se dedicar exclusivamente à compra de vacinas e negociar com vários laboratórios. Enquanto aquele país brigava por vacinas, o Brasil as esnobava. Em dezembro/2020, o Chile já recebia o primeiro lote de vacinas da Pfizer. Resumo da história: até a quarta-feira, 17 de março/2021, o Chile já havia vacinado 36,7% da sua população contra apenas 5,6% no Brasil.
Diante da falta de um plano nacional de combate da doença, cada gestor estadual teve que elaborar às pressas um plano atabalhoado de contingência que, não raro, se chocava com a opinião de gestores municipais quanto ao seu alcance.
Vale dizer que muitas dessas medidas tomadas pelos gestores estaduais e municipais no início da pandemia se mostraram ineficazes, como os hospitais de campanha, instalados às pressas e que na maioria dos casos se tornaram uma maneira de desviar recursos públicos; ou seja, em meio a tanto desespero decorrente de uma ameaça jamais vista na história da saúde nacional, ainda assim pessoas inescrupulosas se locupletaram de recursos destinados a combater a pandemia. Pior de tudo é que até o momento ninguém foi responsabilizado por isso.
Hoje, portanto, com mais de um ano de convivência com a pandemia, o país se encontra à beira do colapso no sistema de saúde, com a doença acelerando rapidamente em todos os estados, com pessoas infectadas lotando os hospitais e muitos morrendo na fila de espera por uma vaga, hospitais esses muitos deles com problemas de escassez de oxigênio e até mesmo de medicamentos básicos como analgésicos e bloqueadores neuromusculares usados para intubação de pacientes nas UTIs, funcionários da saúde à beira da exaustão e em quantidade insuficiente para atender a elevadíssima demanda de serviços e vacinação caminhando a passos de tartaruga pela falta de vacinas.
Com o caos instalado na saúde, a economia, que já vinha passando por momentos difíceis antes mesmo da pandemia, dá cada vez mais sinais de preocupação com a redução da atividade econômica devido à onda de novos lockdowns decretados por quase todos os estados e a necessidade de recursos adicionais para bancar o auxílio emergencial para amparar os mais afetados pela pandemia.
Um dia na história deste país se chegará à conclusão de que muitas dessas mortes poderiam ter sido evitadas se medidas mínimas de controle tivessem sido adotadas desde o início da pandemia e, ela mesma, e se encarregará de punir as autoridades responsáveis pela negligência na morte de tantas pessoas.
Por Carlos Alberto de Sousa, aposentado
É fácil a esquerda colocar a culpa pelo o alastramento da pandemia no presidente. Ignora a decisão do STF que transferiu o poder de gestão da pandemia aos governadores e prefeitos. A imprensa nefasta e corrupta, junto com os esquerdopatas, ajudaram a transformar a pandemia em questões políticas. Que decepção!